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domingo, 15 de setembro de 2013

"Lavadeira Portuguesa" - "Portuguese Washerwoman"


Dada a história de sucesso que o braguinha (machete de Braga) teve na sua chegada ao Hawaii levado pelos emigrantes madeirenses, questionei-me se não restaria na tradição musical havaiana, alguma música que tivesse raízes portuguesas, da que foi tocada no braguinha pelos nossos antepassados.

Ou teria apenas sobrevivido o instrumento musical?

Na pesquisa que fiz em Novembro de 2009 (há já algum tempo portanto)  encontrei na net uma música chamada "Portuguese Washerwoman" tocada por um conjunto havaiano "Ballles 1000", cujos músicos são pai e dois filhos, no caso deles, havaianos de ascendência portorriquenha.

Como a música, para além daquele nome suspeito, me fez lembrar música de tradição portuguesa, contactei o grupo. Mike Balles, o líder do grupo  (de 57 anos na altura), confirmou que aquela música lhes foi passada pelos seus antepassados, e sim, pensam que é de origem portuguesa, tendo sido tornada famosa por Sonny Chillingworth no Hawaii nos anos 50's.

Ouçam esta pequena maravilha!   https://www.youtube.com/watch?v=ETYvRDJsTJE

A música tem de base quatro temas simples e todos eles me pareciam ser familiares do modo rasgado de se tocar cavaquinho solando ao mesmo tempo na última corda.

Havia que experimentar...

Aqui deixo um registo da minha (26ª!...) tentativa de uma interpretação decente dessa música em cavaquinho.



Seja ou não seja de raiz portuguesa é possível toca-la e soar bem ao estilo "pulga saltitante". 

Mas um musicólogo poderá melhor ajuizar de quanto do seu ADN foi transportado com o primeiro braguinha ouvido no Hawaii.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Um "Meio-tampo" de camurça!


Proponho aqui uma maneira prática e económica de transformar um cavaquinho normal, de tampo inteiro, num cavaquinho de meio-tampo. Com todas as vantagens deste último (resistência ao desgaste das unhas ou palhetas) e mais duas: a primeira, a de ser mais silencioso, mais puro de som, pois na camurça as unhas ou a palheta fazem menos ruído; a segunda, a de ser mais fácil de se tocar de "rasgado" por ser, na zona da camurça, mais reduzida a altura das cordas ao tampo.

Material necessário:
Camurça (100cm2);
Cola de contacto;
Faca universal ou bisturi.

Construção:
1- Marque-se a zona no tampo do cavaquinho a transformar. Façam-se uns moldes em cartolina directamente sobre zona a cobrir com as capas de camurça (a zona do braço, por baixo das cordas, deve ficar livre). Dependendo do gosto de cada um, estas podem ser simétricas ou não, conforme no exemplo aqui apresentado.

2- Cortem-se as capas de camurça pelos moldes. Com a faca desbastem-se as capas na parte de trás em cerca de um centímetro a toda a volta (Fig. 1 a 5).

3- Aplique-se a cola de contacto na zona marcada no tampo e nas capas a colar, do lado em que foram desbastadas (Fig. 6 e 7). Espere-se a té a cola secar.

4- Colem-se as capas ao tampo aplicando pressão principalmente na periferia das capas (Fig.8). Está pronto! Simples e barato!


Resultado:
Vão ver como é mais fácil "rasgar" e soam bem melhor os "rasgados" sem os ruídos das unhas no tampo!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O Meu Cavaquinho - 5: A matemática das cordas

Pergunta: A que distância da pestana está colocado o 1º trasto? E o 2º? E os outros? Porque é que as distâncias entre trastos, do 1º ao 12º, vão sendo cada vez mais pequenas?

Resposta: Para que uma corda, submetida a uma tensão fixa, passe a vibrar meio tom acima do tom actual, o seu comprimento deve ser reduzido em 5,61%.
Esta é uma lei física (matemática!) que está por detrás dos instrumentos de cordas, de todos eles, com ou sem trastos, do piano ao violino, da arpa ao cavaquinho!
Calculemos: Se uma corda solta medir 33cm (vulgar no comum dos cavaquinhos), o 1º trasto estará portanto colocado à distância de 33cm x 5.61% = 1,85cm da pestana! O 2º trasto distará do 1º (33cm-1,85cm) x 5.61% = 1,75cm! E assim por diante. Como a corda vai ficando, trasto a trasto, mais curta, a distância entre trastos (5.61% do comprimento da corda) vai sendo também cada vez mais pequena. Até que no 12º trasto (doze meios tons acima) a corda medirá apenas 16,5cm, exactamente 50% do comprimento inicial. Já vimos anteriormante que soará no mesmo tom, mas uma oitava acima (numa frequência dupla da inicial).

Esta regra é conhecida vulgarmente pela "regra dos dezassete", porque multiplicar por 5,61% é o mesmo que dividir por 17,817 e foi esta última conta a conta que os construtores de guitarras e outros instrumentos de cordas sempre fizeram para marcar os trastos nos braços dos instrumentos que fabricavam.

Felizmente que no cavaquinho, como nos membros da família das guitarras em geral, existem trastos para marcar os comprimentos das cordas de meio em meio tom. Facilita muito a execução musical. Pensem no difiícil que não será em acertar exactamente com o 7º "trasto" num violino ou num contrabaixo! É muita matemática!

domingo, 14 de junho de 2009

O Meu Cavaquinho - 4: A manutenção mínima


A lubrificação dos carrilhões

O quê: Uma gota de óleo fino de máquina (de costura) por carrilhão.
Frequência: Uma vez por ano.
Como: Aliviar a tensão em todas as cordas com duas meias voltas em cada cravelha. Colocar meia gota de óleo no parafuso do carrilhão e rodar a cravelha para a frente e para trás 2-3 vezes. Colocar mais meia gota e repetir o exercício. Fazer o mesmo para todos os carrilhões. Não por óleo a mais nem noutros pontos. É inútil e só pode dar problemas.


A limpeza das cordas e do braço

O quê: Remoção da gordura natural deixada pelas nossas mãos. Para além das eventuais consequências estéticas, esta gordura e partículas acumuladas nas cordas fazem com que haja um aumento da sua massa e por isso haja uma alteração do seu timbre ficando este menos brilhante. Se as cordas forem de aço puro (não niquelado) acresce ainda a formação de uma camada de oxidação (ferrugem), independentemente de serem tocadas ou não, que afecta igualmente a qualidade do timbre.
Frequência: Depois de cada utilização, antes de guardar o instrumento; Para as cordas de aço não revestido depende muito da humidade. Deve verificar-se o estado de limpeza das cordas antes de cada utilização.
Como: Com um pano fino de algodão esfregar todas as zonas usadas para tocar, com especial atenção para a extensão toda das cordas e zona superior da escala e do braço. Convém colocar no seu estojo um pano para este efeito, com cerca de 50cmX50cm.


A mudança das cordas

O quê: Substituição das cordas todas. Ao longo do tempo as cordas vão ganhando acomodações ("camas" ou "calos") em vários pontos, como por exemplo, nas curvas da pestana e do cavalete, nos carrilhões, sobre os trastos. A partir de uma certa altura estas "camas" dificultam muito uma correcta afinação das cordas pois fazem com que a corda se acomode numa dada posição que fica um pouco antes ou depois do ponto optimo de afinação, onde não estabiliza.
Frequência: Uma vez por ano;
Como: Fazer ou comprar um encordoamento completo. Isto é a melhor maneira de garantir a uniformidade das cordas.
Desafinar, substituir e afinar uma corda de cada vez para não se alterar a posição do cavalete. Se por acaso o cavalete se mover da sua posição original, teremos de fazer uma nova calibração do cavaquinho (Ver "O Meu Cavaquinho - 3: A calibração" neste blogue).
Verificar no fim se a altura das cordas na pestana e no cavalete é a correcta. Por vezes a corda fica mal posicionada na ranhura da pestana. Outras vezes a laçada na ponte sai muito alta e não deixa a corda tocar para "quebrar" no cavalete.

Nota: Usar estes mesmos procedimentos para substituição de uma corda que se partiu ocasionalmente.

Dica #1: Para facilitar o enfiamento da nova corda façamos uma ligeira dobra a uns 3 ou 4 milímetros da extremidade a enfiar. Depois de passar o orifício da ponte, esta ponta (levantada por causa da dobra que lhe fizemos), pode ser apanhada com o laço que está feito na outra extremidade da corda. Assim facilmente a fazemos passar o obstáculo que é o cavalete.
Dica #2:  As cordas do cavaquinho são finíssimas e portanto as pontas são extremamente afiadas. Para evitar picadelas nos dedos ou até nos olhos, depois de afinar uma corda nova dobre-lhe na ponta solta (no carrilhão) um centímetro para trás.
Dica #3: Ao retirar uma corda partida ter as devidas precauções já que uma corda partida tem sempre uma ponta afiada, pelo menos, e vê-se mal. Também por questões de segurança, enrole uma corda partida, como se enrola uma corda nova, mal a tire do cavaquinho. Assim é mais fácil de manipular até se descartar dela.

terça-feira, 9 de junho de 2009

O Meu Cavaquinho - 3: A calibração

Pergunta: Mas os cavaquinhos precisam de ser calibrados?
Resposta: Sim!
P: Quando?
R: Sempre que o cavalete se move para fora da sua posição correcta!

O Porquê

Sabe-se que a frequência de vibração de uma corda (o som que ela faz ao vibrar) depende da sua tensão (força com que está esticada), da sua espessura e do seu comprimento (distância entre o cavalete e a pestana). Para uma dada espessura e uma dada tensão, quanto menor for o comprimento da corda mais alta é a nota musical (frequência).

Se o comprimento da corda for reduzido a metade, a frequência musical sobe para o dobro, isto é, uma oitava acima. Por exemplo, de um Lá de 440 Hz passará para um Lá de 880 Hz.

Ao pisar uma corda num dado trasto não estamos mais do que a mudar a pestana (trasto zero) para esse trasto e, com isto, a reduzir o comprimento (útil) da corda entre pestana e cavalete. Ao fazer um travessão no 3º trasto estamos a mudar a pestana para o 3º trasto em todas as cordas, etc.

No 12º trasto a escala musical volta ao início (12 meios tons), isto é, a corda Lá solta (trasto zero), volta a soar Lá, agora uma 8ª acima.
Se isto acontece é porque o comprimento da corda Lá foi reduzido a metade. Portanto (conclusão importante) o 12º trasto tem de estar exactamente ao meio da distância entre a pestana e o cavalete! Como a pestana e os trastos estão fixos "de fábrica" e o cavalete está móvel, para estar calibrado o cavaquinho tem que ter o cavalete a uma distância do 12º trasto exactamente igual à distância entre a pestana e este trasto.


e o Como
Poderíamos medir a distância da pestana ao 12º trasto e marcar a posição correcta do cavalete com uma régua. Mas, na prática, mais eficientemente do que medindo as distâncias, calibra-se o cavaquinho colocando o cavalete no ponto que faz com que as cordas pruduzam, quando soltas e quando pisadas no 12º trasto, a mesma nota musical.

Os afinadores electrónicos são muito úteis para este fim...

O Meu Cavaquinho - 2: Os ajustes à minha medida

Os cavaquinhos que se compram nas lojas não estão normalmente ajustados à nossa medida, são feitos tipo "pronto a vestir", têm que servir para um número grande de pessoas e diferentes tipos de utilização...

Portanto pode ser preciso fazer uns pequenos ajustes no cavaquinho para o pormos "à nossa medida"...

Alguns exemplos e sugestões:

- A altura das cordas aos trastos (ao 1º e ao 12º trastos)

Este ajuste é dos mais importantes se vamos tocar de "rasgado".

1) A altura das cordas ao 1º trasto porque, se for demasiado alta, força demais (vinca) a corda contra a pestana quando a pisamos no primeiro intervalo, o que tem duas consequências más: a primeira é que aumenta a tensão da corda, distorcendo o tom, a segunda é que, com a continuação do esforço, faz a corda partir-se mais cêdo. Se for demasiado baixa, demasiado próxima do trasto, as cordas ao vibrarem soltas podem tocar no 1º trasto gerando vibrações e sons parasitas.

2) A altura das cordas ao 12º trasto ( ou antes, a altura das cordas ao tampo raso), porque, se for demasiado alta, não permite uma fácil passagem das unhas para o toque "rasgado". Se for demasiado baixa, demasiado próxima do 12º trasto, as cordas premidas nos outros trastos, ao vibrarem, podem tocar nos trastos seguintes gerando vibrações e sons parasitas.

A altura das cordas ao 1º trasto deve ser por isso pouco maior que a espessura de duas ou três folhas de papel (usando as folhas dos "post-it" como referência). A altura ao 12º trasto deve ser qualquer coisa como a espessura de entre 15 e 20 folhas de papel (usando a mesma referência).



Se precisarmos de fazer estes ajustes, devemos fazer primeiro o segundo, por meio da redução da altura do cavalete por desbaste, por exemplo, com uma lixa fina. E depois o primeiro, aos poucos aprofundando um pouco mais as ranhuras da pestana, com uma lâmina (cuidado para não aprofundar demais!), testando sempre entre cada tentativa, com as cordas em tensão.




- O calibre das cordas.

Principalmente se vamos tocar muitas vezes de "rasgado".


Normalmente vêm "de fábrica" com quatro cordas todas do mesmo calibre (ex.: No. 10, 0.23mm ou 0.009"). Quando tocamos de "rasgado" as duas cordas superiores são mais forçadas que as outras pelo que desafinam muito facilmente. Devemos por isso substitui-las por outras de calibre superior (ex.: No. 8, 0.28mm ou 0.011"). Por serem mais espessas estas duas cordas vão estar com uma tensão um pouco superior resistindo muito melhor aos "ataques" dos dedos e das unhas nos "rasgados" que fizermos.

- Os pontos marcados na escala (braço) no 3º, 5º, 7º, 10º e 12º intervalos.

Estes pontos dão muito jeito a quem toca...no início e não só...

Se "de fábrica" não os tiver, não há crise, é muito fácil pô-los. Basta colar na escala, com uma cola de papel, uns papelinhos brancos (os feitos por um vulgar furador de folhas de papel servem na perfeição para este efeito!). Assim em qualquer altura podem ser substituidos ou removidos sem deixar manchas na madeira;



- A alça para segurar a cabeça (do cavaquinho!)


Para mim, imprescindível!


Há quem consiga, até de pé, segurar o cavaquinho na posição correcta usando só a mão e o braço. Eu não consigo, nem sentado!

Bom, resolve-se o problema com uma alça, que pode ser feita com uma fita ou um cordão.

A alça pode colocar-se fixa num ponto apenas (cabeça ) ou em dois pontos (cabeça e fundo). Se for suficiente para o efeito, é preferível a primeira hipótese por não precisar de colocar nenhum parafuso no fundo do cavaquinho.

Convém que esta alça seja ajustável em comprimento para maior comodidade nossa ao pôr e ao tirar.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Meu Cavaquinho - 1 : Como escolher um?


Os cavaquinhos são todos diferentes

Os cavaquinhos, ou são fabricados artesanalmente em pequenas séries num máximo de 5 a 10 unidades (mais caros), ou industrialmente em séries de maiores quantidades (mais baratos). Estes últimos nem trazem já a etiqueta de fabrico colada no seu interior, para serem mais baratos e fáceis de comercializar, o que, no meu entender, é um grande erro e um risco para a indústria nacional. Mas adiante...
Não há por isso dois cavaquinhos iguais! Uns mais outros menos bonitos nas nuances das madeiras e, mais importante que isto, uns mais outros menos sonantes! E é este o aspecto, se não o único aspecto para além do seu preço, que devemos ter em conta na escolha de um cavaquinho. Preparem-se portanto para ter que escolher, decidir, de entre vários, qual é o que vão comprar e depois poder tocar durante muitos anos!   
   
A escolha acertada  
   
Para a compra de um cavaquinho de 4 cordas simples, as minhas recomendações são as seguintes:
1- de fabrico nacional, com um bom acabamento, sem empenos no braço ou fendas nas madeiras;
2- cabeça com carrilhão que apertem e desapertem com facilidade (o leque dá mais trabalho e afina pior) ;
3- de meio tampo (um pouco mais caro mas suja-se e estraga-se menos);
4- que tenha uma sonoridade clara (sem vibrações parasitas) na vossa afinação preferida (por ex.: La, La, Do#, Mi) em cada uma das cordas, primeiro com cordas soltas e depois em posições à sorte;
5- que tenha uma sonoridade bem viva em todas as posições da corda mais alta, a primeira a contar de baixo para cima (neste exemplo, o Mi);

Para determinar a escolha nesta última característica (a 5, a mais definitiva!), basta, depois de termos posto o(s) cavaquinho(s) a testar na afinação preferida (por ex.: La, La, Do#, Mi), fazer o seguinte exercício:
a) faz-se soar esta corda solta, em cada um deles se for o caso, e avalia-se a nitidez e a duração do som produzido. Quanto mais nítido e duradoiro for o som, melhor o cavaquinho, claro;
b) depois faz-se soar esta corda no último trasto (o 12º), a mesma nota mas uma 8ª acima, em cada um deles se for o caso, e avalia-se a nitidez e a duração do som produzido. Quanto mais nítido e duradoiro for o som, melhor o instrumento;
c) faz-se agora a mesma coisa mas no 7º trasto (produzindo um Si, no exemplo da corda Mi). Quanto mais nítido e duradoiro for o som, melhor;

Este último teste é o mais difícil e, frequentemente, encontramos casos em que a corda "abafa" mais o som, este dura menos tempo, no 7º trasto que no 12º. Claro que isto não é aceitável num bom cavaquinho.

Chegados aqui já eliminámos o(s) mau(s) cavaquinho(s), não será fácil chegar a haver necessidade de desempate. Mas, se isto acontecer,
d) faz-se o mesmo exercício de comparação do som no 5º trasto (um La neste exemplo) e depois, os exercícios (5) anteriores na corda seguinte (o Do# neste exemplo).
Escolhido o vencedor deste teste, verifique que não há vibrações parasitas testanto várias posições nas outras cordas. E pronto!

Já agora aproveitem e comprem-lhe um estojo resistente, acolchoado. Ele bem o merece!